terça-feira, 21 de dezembro de 2010

Marcella Faye, a publicitária que ama trabalhar com hotelaria

Mulheres que fazem a diferença

Marcella Faye é uma mulher que faz a diferença. Publicitária em formação, ela trabalha fora de seu ramo. Mostra simpatia e dedicação na recepção de um hotel no Leme - Rio de Janeiro, adora o que faz, e conta para “Conversa com a Autora: Entrevistas” um pouquinho de como é o seu trabalho na área de hotelaria.

Autora: Como é seu trabalho como Recepcionista de hotel?
Marcella: É muito cansativo, tenho que estar sorrindo e apresentável o tempo inteiro, mas por outro lado estou gostando muito, pois estou fazendo algo que nunca imaginei estar fazendo na vida.
É um trabalho totalmente diferente do que eu deveria estar fazendo. Não tem nada a ver com minha formação, pois estou cursando publicidade. Conheci e realmente me identifiquei. Comecei porque precisava de um emprego e era algo bem versátil, e então, eu me encontrei.

Autora: E o que você acha do trabalho?
Marcella: Conheço gente nova todos os dias, ouço muitas histórias diferentes. Coisas que eu nunca imaginei saber na vida, como encontrar muitos estrangeiros, ter a oportunidade de conhecer novas línguas e falar outros idiomas. Inglês, por exemplo, que gosto muito. Estou agora aprendendo um pouco de chinês, alemão... É muito legal!

Autora: Como é o ambiente de trabalho?
Marcella: É muito bom e o pessoal também!

Autora: E o staff é grande?
Marcella: São doze recepcionistas divididos em três turnos. Todo mundo se encontra, então todos somos amigos! Como trabalho no turno da manhã, encontro o pessoal da madrugada e da tarde também. Tenho um chefe maravilhoso, que é como um pai para todos lá. E é difícil achar alguém da chefia assim.

Autora: Como é sua relação com os colegas de trabalho?
Marcella: É muito boa! Todos se conhecem e são amigos! Eu falo com o faxineiro, com o arrumador, com o rapaz da portaria de serviço... Todo mundo é igual lá e se trata super bem.

Autora: Como é sua relação com os clientes?
Marcella: Conheço muitas histórias de outros lugares. As pessoas gostam de falar sobre seu país, sobre o que tem por lá. Elas vêm para cá, para o Rio de Janeiro, e muita gente tem medo. Perguntam “É seguro andar na rua? Posso andar normalmente? Usar jóias?”. Acho até engraçado, pois estamos acostumados, saímos de casa todos os dias e não temos essa preocupação.

Autora: E vocês dão dicas de onde ir, o que fazer?
Marcella: Sim, temos influência no que as pessoas fazem, porque chegam aqui e dependem de nós para andarem pela cidade. Algo que eu percebo é que os turistas vêm pra cá e querem eles mesmos olharem o mapa, pegar um ônibus e ir. Eles querem se virar. E, assim, dependem dos recepcionistas do hotel para dar as instruções e dizer aonde ir, aonde descer do ônibus. Por eles serem dependentes, acho legal ajudar de alguma forma.

Autora: E vocês tem algum tipo de "hóspedes permanentes" ou que, pelo menos, sempre hospedam-se com vocês?
Marcella: Sim, os hóspedes, que nós chamamos de habitués, são aqueles que estão sempre hospedados lá. Alguns falam “Só fico neste hotel por causa de vocês!” porque desde o momento que eles chegam ao hotel, damos o máximo de suporte para estarem lá. Alguns vão só para conversar. Nós os abraçamos e acolhemos mesmo. No carnaval, por exemplo, sempre tem festa no hotel. É muito divertido! Inclusive saímos da recepção para sambar com os hóspedes!

Autora: Os hóspedes ficam satisfeitos, então?
Marcella: Os hóspedes estão sempre voltando, justamente pelo atendimento diferenciado que damos. Às vezes, por exemplo, se um hóspede passa mal, chamamos o médico ou, até, o acompanhamos ao hospital. Procuramos sempre dar esse apoio.

Autora: Que tipo de hóspede vocês tem no Hotel?
Marcella: Lá temos muitas tripulações, que estão lá quase todos os dias, então há certa intimidade entre os funcionários e os hóspedes. Quando eles vão à rua, se preocupam, perguntando se queremos algo... é bem uma cumplicidade mesmo.

Autora: E famosos, também hospedam-se lá?
Marcella: Algumas vezes sim. Hospedam-se atores, pois muitas vezes tem gravação de novelas e filmes naquela parte da praia, que é no Leme. O almoço deles e a troca de figurino acontecem lá no Hotel. Já se hospedaram bandas, além de muitos times de esportes, quando tem jogo. Jogadores de futebol, mesmo fora de grupos, ficam por lá. Um deles agora está morando lá no Hotel, o André Luiz do Fluminense. Já estiveram hospedados o Thiago Lacerda, a Camila Pitanga... Muita gente mesmo!

Autora: O Hotel no qual você trabalha também é apart-hotel?
Marcella: Não, lá é Hotel mesmo. Mas, por exemplo, muitas pessoas que são de empresas, moram em São Paulo e precisam ficar algum tempo aqui no Rio, hospedam-se lá. Há pessoas, por exemplo, que estão lá há três meses direto, morando lá. Vão e voltam. Há, ainda, alguns hospedes que moram por um tempo lá, mas não é apart-hotel. Fazemos até um pacote especial para não ficar caro demais, com preço bom, justamente pelo tempo que eles permanecem, pois disponibilizamos o apartamento somente para eles.

Autora: Quando você foi trabalhar, procurou um hotel?
Marcella: Não, eu entrei por acaso. Estava trabalhando em uma agência de publicidade, fazendo propagandas, filmes e comerciais. Só que era muito distante da minha casa, em torno de três horas para ir e três para voltar. Trabalhava o dia inteiro e não recebia salário, somente o valor do transporte, e ainda assim, às vezes tinha que inteirar.

Autora: Como chegou nesse Hotel do Leme?
Marcella: Uma amiga minha trabalhava em um hotel e perguntei para ela se não teria a possibilidade de conseguir um trabalho para mim. Eu fui, então, numa sexta-feira, fazer uma reunião com o RH e com o meu atual chefe de recepção. No meio da entrevista, ele começou a falar inglês de repente! E ele tem uma voz diferente, então pensei “O que esse cara está falando?” pois sei falar inglês mas não tão fluente assim. Tentei falar normalmente com ele, e, na mesma hora ele disse que na segunda-feira eu poderia começar.

Autora: E onde você foi trabalhar? Direto na recepção?
Marcella: Primeiro achei que fosse ficar no caixa do restaurante, quieta lá no meu canto. Mas não, o meu chefe me disse que eu ficaria na recepção.
No começo foi bem difícil porque tive que me acostumar a ficar em pé o tempo inteiro. Tive dores nas pernas, fiquei cansada, queria me sentar a todo momento. Achei que ele fosse me mandar embora no mesmo mês porque eu estava me arrastando! Mas consegui pegar o ritmo e agora já estou lá há dois anos e pouquinho.

Autora: O que você acha da recepção?
Marcella: Estou acostumada a ficar na recepção a manhã toda. Eu não acreditava nisso, mas quando comecei a trabalhar percebi: a recepção é o coração do hotel. Nada acontece sem que passe por ali. Todo e qualquer problema passa para a recepção e nós que damos um jeito de resolver. Se não tiver recepção, não funciona!

Autora: Você gosta do que faz?
Marcella: Gosto muito! Às vezes reclamo, digo que minha perna está doendo, como agora estou com a bota aqui (Marcella estava, no dia da entrevista, com tendinite em uma das pernas por causa do trabalho e usava uma bota ortopédica), mas adoro! Se fosse mudar, seria para outro local parecido.

Autora: Como foi "encontrar-se" na hotelaria?
Marcella: Hotelaria foi bom para mim porque não sou uma pessoa tímida ou envergonhada, até converso bastante, só que eu me segurava um pouco. Agora, querendo ou não, eu tenho que falar com pessoas que nunca vi na vida. Aprendi a ser assim, mais extrovertida e aberta para falar com quem não conheço, sabe? É a prática! Abriu oportunidades.

Autora: Você pretende futuramente fazer uma faculdade de hotelaria?
Marcella: Bom, falta apenas um ano para eu terminar a faculdade de publicidade. Não pretendo fazer exatamente uma faculdade de hotelaria, mas uma pós relacionada a isso.

Autora: E com publicidade, você não pretende trabalhar?
Marcella: Por enquanto não, porque gosto desse caminho que eu encontrei na hotelaria.

Autora: Nem pretende conciliar a publicidade com a hotelaria?
Marcella: Se surgir futuramente pela publicidade uma oportunidade melhor do que estou agora, com certeza. Não posso dizer que vou ficar na hotelaria para sempre! Mas, por enquanto, não, apesar de usar a publicidade para divulgar meu trabalho e o que faço como hobbie.

Autora: Quais são seus hobbies?
Marcella: Gosto de trabalhar com arte, fazer trabalho gráfico e scrapbook. Gosto de fazer pra mim, como uma maneira de descansar. Divulgo no meu blog e às vezes as pessoas se interessam e encomendam.

Autora: Você tem alguma dica para quem está começando?
Marcella: Paciência porque você resolve o problema dos outros o dia inteiro e, muitas vezes, recebe reclamações das quais você não poderia fazer absolutamente nada para resolver, mas você tem que ouvir pacientemente. Tentamos ajudar de qualquer forma, às vezes não está ao nosso alcance, então falamos “olha, desculpa, mas não tenho o que fazer!”.
Ainda mais que turistas estão em um lugar que eles não conhecem e são dependentes mesmo da recepção.
Outra característica é ter que gostar de lidar com o público e ter uma simpatia natural, porque é necessário entender que as pessoas chegam cansadas de horas e horas de vôo e não querem encontrar alguém mal humorado, indisposto a ajudar, mas ser recepcionado com um sorriso, querem se sentir acolhidas, pois ali é um local onde elas vão descansar e ter as instruções para conhecer o local e se divertir.
Fazer academia, andar bastante ou praticar algum esporte (risos) para ter uma capacidade física boa para estar ali em pé, com as pernas doloridas, ralando o dia todo, de rádio na mão para cima e para baixo. Tem, também, que estar sempre alerta, pois você está lidando com pessoas diferentes todos os dias, tanto de dentro do hotel quanto de fora, e quando chega hóspede novo ou grandes grupos, a bagagem fica ali no lobby e se sumir algo, a culpa é nossa, então, é preciso ficar sempre de olho no que acontece.


Agradeço encarecidamente pela participação de Marcella Faye no projeto "Mulheres que fazem a diferença"!


Aguarde novos relatos nas próximas semanas.

Feliz Natal a todos!

Leia também: Conversa com a Autora

2 comentários:

CLAUDIA FAYE disse...

lindas!! a autora pela entrevista maravilhosa e a entrevistada que é reralmente uma linda mulher que esta começando a fazer a diferença
beijo amo vcs!
claudia faye

Vitória Pratini disse...

Claudia,
Que bom que você gostou da entrevista!
Obrigada!
Adorei entrevistar a Marcella, e, realmente, ela ainda tem muito pela frente e a diferença que faz está apenas começando. :)
Beeijos e também amo vocês.